Vocês, em se pilhando à solta, adeus meu amigo!... Entro amanhã de manhã para o Hospital e na quinta é dia de visita. Não te esqueças de mim, ouviste? A gente prende-se e depois custa-lhe. Ora! que é que eu faço neste mundo!... Tu há bocado disseste que bem sabias onde ir buscar o dinheiro. Era à Gorda, pois era? Podes dizer, que eu bem sei. Estou pronta! Sou um cangalho, só sirvo de tropeço... Mas olha que fui sempre tua amiga. Já agora deixa-me acabar, pra lhe não dares esse gosto... Só te peço uma coisa... É que me vás ver antes de eu ir pra a cova. Pra a terra! Isto de a gente morrer sem mais nem menos até me parece esquisito... Que haverá no outro mundo?... Estou pronta. O médico ontem disse: – Estás pronta! –E atiram assim com a gente pra o cemitério!...
Eu ainda queria que me dissessem o que é que a gente cá vem fazer...
– Sei lá!
– Chorar. Só se for... E levar má vida.
Apertando-lhe as mãos, envergonhada:
– Então vê lá se te esqueces de mim.
– Agora!...
E ela, sorrindo com um sorrir triste que lhe ilumina a boca descorada como um reflexo de sol:
– Agora! é o que vocês sabem dizer. Os homens são todos o mesmo, falam todos pela mesma boca. A gente, coitada, prende-se, mas vem a morte e tudo leva consigo.
O Gabiru, desenroscando as pernas, ergue-se e murmura de si para si:
«Que tempo este em que estamos! Parece feito de emoção... E tudo vai sonhando o seu sonho, que eu bem sei, bem no sinto nas árvores, nas pedras e na terra, até na terra mirrada... E eu tanto te queria dizer! tanto!...
Olha, sempre te chamas Maria?»