X - História do Gebo Ele aí vai aos tropeções, amachucado e ridículo – e as lágrimas no seu carão espantado só nos fazem rir.
Empurra-o a Vida, atira-o, estatela-o no lajedo, aflito, sem mão que o ampare e de cabelos brancos estacados.
Gritam-lhe:
– Ó Gebo! ó Gebo!...
Não há que ter piedade dos fracos. A própria natureza os repele do seu seio.
Faltava-lhes tudo, tudo se esfarrapava no seu lar.
Dormiam em enxergas no chão, nessas noites de frio inverno. O que mais lhe custava era ver a filha horas e horas a cismar. Em quê?... Por ela é que se batia ainda com o destino. E quase não tinha pão para lhe dar!
A mulher clamava:
– Mas trabalha! tu não trabalhas!... Tu o que és és um mandrião. Olha os outros como furam, como sobem...
Tu és um estúpido! Na vida é preciso ter-se muita finura.
Quem é assim não se casa!
– Ó mulher, a gente quando cai nunca mais se levanta.
E afinal caíra para sempre, sem energia e sem forças, prostrado. A sua vontade seria deitar-se e nunca mais acordar. Correra tudo, batera a todas as portas e assim se afizera à humilhação e à esmola; a ser mal recebido, a ouvir repostadas que ferem e despedidas bruscas. Os amigos, que a princípio lhe davam para o rebaixar, falavam-lhe agora com pedras na mão:
– Volte depois! É de mais! Isto sempre não pode ser, você abusa!
As suas melhores horas eram as do sono, profundo, de poço, em que ao deitar mergulhava logo. Esses pedaços de vida, furtados à desgraça, em que se não pensa, sem sonhos, dum profundo aniquilamento, eram o único gozo do Gebo. E tanto mais a desgraça o abalava, tanto maiores eram os seus cuidados, mais absoluto o seu sono. Ao contrário da mulher, que quase não dormia e levava a noite inteira a cismar e a chorar, ele, logo caído na cama, logo tombava como morto.