Arfa a terra, incham os montes e vogam no ar aspirações de árvores, murmúrios de fontes, o hálito das plantas ignoradas. Oh há noites encharcadas de luar, em que se ouvem as lágrimas das noras paradas, caindo uma a uma na terra sequiosa, e se pressentem diálogos de sonho entre os grandes pinheiros bravios... E a Árvore fica indiferente.
Mas os desgraçados gritam, os pobres gemem – e a Árvore entontece, abalada até às raízes mais fundas...
Esperai! esperai!... A ventania redobra. Depois um silêncio prostrado, um silêncio pior do que a lufada, em que eu ouço o esforço que o mundo que povoa a escuridão faz para gritar. A treva arqueja e a última brasa reluz ainda no lar, cujo escarlate arqueja, arqueja e vai esmorecendo...
Grito! É sempre a mesma rapariguinha que ressurge, magra, pálida e triste, com um pobre vestido encharcado de chuva ou ensopado de lágrimas. Sorri para mim descalça, estendendo-me os braços. Ei-la! ei-la!...
Só uma brasa ainda vive no lume, misturando na escuridão uma poeira escarlate. E vai apagar-se!
extingue-se!...
Toda a vida é uma construção de gritos, a cada passo para a frente há sempre uma criatura espezinhada...
Que queres tu?
E uma coisa fútil a vida? Então porque não conseguimos apagar o vestígio dos nossos passos? porque não conseguimos esquecer? Esquecer! esquecer! Não, nunca mais se esquece a dor que se causa no mundo!
Passam-se os dias e os anos e a imagem ressurge diante dos meus olhos. Não me acusa. Eu é que me acuso. Todos os passos que damos no mundo tão irremediáveis, toda a dor ligada à dor, todos os mortos e os vivos fazem parte da mesma legião que me estende os braços. Tu que queres?...
Não é ódio que ela tem por mim, porque o seu sorriso, que eu sinto molhado de lágrimas, é triste mas resignado.