Há um silêncio cavo. Chove sempre a mesma chuva tenaz, com um céu nublado e aflitivo. A cidade morta, sob o aguaceiro, espapaça-se na lama. Debaixo de cada um destes tectos escondem-se as mesmas misérias e os mesmos sonhos. Esta pedra abriga ódios, crimes, escárnio. A sombra perde-se no escuro, torna, pára indecisa...
Que me importa o que os outros sofrem? Uma desgraça? O mundo está cheio de desgraçados. Um sonhador que se afunda? O mundo está farto de sonho.
Este mesmo céu pesado, esfarrapado e trágico, tem abrigado sempre gritos e catástrofes. Que me importa o que ele sofre? Cada um por si, cada um com as suas lágrimas e os seus ódios... O homem por vezes tropeça, cai; depois lá se arrasta trôpego. Alvorece e, àquela primeira luz, a cidade parece desenterrada. A casaria ressurge, emerge da treva, leprosa, cambada, gasta pelo ódio, pelas ambições, pelos rancores...
Ei-lo que se senta na terra, arrasado, enlameado, exausto... Ao romper da manhã começa de novo a chover e ele chora.
Tanta lágrima! Um dia a desgraça, no outro a desgraça... Aquela sombra é a minha! aquele homem sou eu!...