A NOVA CATACUMBA
(The new catacomb) Vejamos, Burger - disse Kennedy -, sinto-me muito - feliz por ver que tem realmente confiança em mim.
Os dois estudantes jovens chegados a Roma para aprofundarem os conhecimentos das antiguidades achavam-se confortavelmente sentados no quarto elegante de Kennedy, cujas janelas davam para o Corso. A noite estava fria e ambos tinham puxado as cadeiras para junto de um daqueles fogões de aquecimento italianos que mais nos sufocam do que aquecem.
No exterior, à luz das estrelas brilhantes do Inverno, estendia- se a Roma moderna, com as suas correntezas de candeeiros eléctricos, os seus cafés brilhantemente iluminados, as suas filas de viaturas que se sucediam a todo o momento, e a sua multidão compacta que enchia os passeios.
O quarto do jovem arqueólogo encontrava-se sumptuosamente mobilado, e todas as recordações que ali se amontoavam faziam lembrar a velha cidade romana. Frisos vetustos, salpicados pela usura do tempo, estavam pendurados nas paredes, bustos de antigos senadores e de soldados, com as suas caras severas e cruéis, achavam-se dispostos em todos os cantos e pareciam fitar-nos, cobertos pela poeira dos séculos. Numa mesa colocada ao centro da sala encontrava-se, no meio de uma confusão de inscrições, de cacos e de ornamentos, a famosa reconstituição, feita por Kennedy, das termas de Caracalla que, exposta em Berlim, tanto interesse e admiração excitara. Havia ânforas penduradas no tecto, e em cima do rico tapete vermelho da Turquia estavam espalhadas curiosidades de todos os géneros. Todas estas recordações de outra era possuíam uma autenticidade indiscutível e representavam, devido à sua raridade, um valor considerável, porque Kennedy, embora acabasse de completar os trinta anos, usufruía já de uma reputação europeia entre os conhecedores de arqueologia.