BRINCANDO COM O FOGO
(Playing with the fire) Não tenho a pretensão de dizer o que aconteceu exactamente em 14 de Abril último no 17 de Badderly Gardens. Transcritas preto no branco, as minhas suposições pareceriam demasiadamente grotescas para serem levadas a sério. E, no entanto, alguma coisa aconteceu; alguma coisa tão particular que dela nos recordaremos até ao fim dos nossos dias; eis o que é tão certo como pode ser seguro o testemunho de cinco pessoas. Não me deixarei levar por discussões nem por especulações. Contento-me em fazer uma espécie de depoimento que submeterei a John Moir, a Harvey Deacon e a Mrs. Delamere; só o publicarei depois de ter obtido a sua confirmação de cada pormenor. Serei obrigado a dispensar o imprimatur de Paul Le Duc porque ele deixou a Inglaterra Foi John Moir, primeiro sócio da célebre firma Moir, Moir & Sanderson, quem primeiro solicitou a nossa atenção para os problemas do ocultismo. Como muitos homens de negócios muito duros e práticos, tinha um lado místico que o conduzira ao exame e, se fosse caso disso, à aceitação destes fenómenos incompreensíveis que reunimos, na companhia de muita estupidez e de fraudes, sob a etiqueta de espiritismo.
Tinha começado as suas investigações com um espírito livre; em breve elas assumiram a figura de dogmas; tornou-se então tão positivo, tão fanático como o primeiro beato falso que aparecesse. No nosso pequeno grupo representava os místicos que haviam elaborado uma nova religião a partir destes fenómenos singulares.
Mrs. Delamere, o nosso médium, era sua irmã e também a mulher do escultor Delamere. A experiência ensinara-nos que trabalhar estes problemas sem médium era tão vão como se um astrónomo tivesse querido fazer observações sem telescópio.