O seu hábito fatal de encarar tudo do ponto de vista de uma história em vez de encarar as coisas sob o ponto de vista científico destruiu aquilo que poderia ter sido uma série clássica de demonstrações. Dedica-se ao seu trabalho com a maior delicadeza e subtileza, a fim de evidenciar os pormenores sensacionais que poderão entusiasmar, mas de forma alguma instruir, o leitor.
- Então por que é que não as escreve você? - perguntei com algum azedume.
- Assim farei, meu caro Watson. Estou, presentemente, e como sabe, bastante ocupado, mas proponho-me dedicar os últimos anos da minha vida à elaboração de um livro que focará toda a arte da detecção, num só volume. O nosso actual caso parece ser um caso de assassínio.
- Então, acha que Sir Eustace morreu?
- Diria que sim. O bilhete de Hopkins revela uma certa agitação e ele não é um homem emotivo. Sim, presumo que tenha havido violência e que o corpo foi deixado no local para o podermos examinar. Um mero suicídio não o levaria a chamar-nos. Quanto à libertação da senhora, parece-me à primeira vista que tenha sido fechada à chave no seu quarto durante a tragédia. Vamos entrar na alta sociedade, Watson... papel de luxo, monograma «E.B.», brasão, e uma morada pitoresca. Creio que o nosso amigo Hopkins não trairá a sua reputaçao e que teremos uma manhã interessante. O crime foi cometido antes da meia-noite.
- Como é que pode afirmar uma coisa dessas?
- Consultando o horário dos comboios e calculando o tempo. A polícia local teve de ser chamada, teve então de comunicar com a Scotland Yard, Hopkins teve de lá ir e, por sua vez, chamar-me. Tudo isso levou, certamente, toda a noite. Bom, chegámos à estação de Chiselhurst e em breve esclareceremos as nossas dúvidas.