A Aventura da Segunda Mancha A minha intenção era que «A Aventura de Abbey Grange» fosse o último relato das actividades do meu amigo, Sr. Sherlock Holmes, que eu narraria ao público: Esta decisão não se devia a falta de material, dado que possuo notas sobre centenas de casos aos quais nunca aludi, nem tão-pouco a uma falta de interesse pela parte do público sobre a singular personalidade e métodos ímpares desse extraordinário homem. A verdadeira razão é a relutância que o Sr. Holmes tem mostrado quanto à publicação contínua dos seus casos. Enquanto prosseguia a sua actividade profissional, o registo dos seus êxitos tinha para ele um certo valor prático, mas dado que abandonou definitivamente Londres para se dedicar ao estudo e à apicultura nos Sussex Downs, a notoriedade tornou-se-lhe detestável e pediu-me peremptoriamente que a sua vontade fosse estritamente cumprida neste campo. Só depois de ter insistido que ele me prometera que permitiria a publicação da «Aventura da Segunda Mancha», quando a altura fosse adequada, e referido que considerava que esta longa série, de episódios devia culminar no mais importante caso internacional em que ele fora chamado a intervir, é que finalmente consegui a sua autorização para apresentar ao público um relato cuidadosamente elaborado e com as necessárias reservas. Se, ao contar a história, parecer um pouco vago em relação a certos pormenores, o leitor compreenderá que existem razões de força para as minhas reticências.
Assim, numa terça-feira de manhã do Outono de um ano, e mesmo de uma década, que não referirei, recebemos dois visitantes de fama europeia na nossa humilde sala de Baker Street. Um, austero, de nariz adunco, olhos de águia e modos dominadores, não era senão o ilustre Lorde Bellinger, que já fora duas vezes primeiro-ministro de Inglaterra.
