Da necessidade da revelação
O maior benefício que devemos ao Novo Testamento consiste em nos ter revelado a imortalidade da alma. Inútil foi que o bispo Warburton tratara de obscurecer tão importante verdade, dizendo continuamente que «os antigos judeus desconheciam esse dogma necessário, e que os saduceus não o admitiam na época de Jesus».
Interpreta a seu modo as palavras que dizem que Cristo pronunciou: «Ignorais que Deus disse: eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isac e o Deus de Jacó? Logo Deus não é o Deus dos mortos, e o Deus dos vivos». Atribui à parábola do mau rico o sentido contrário ao que atribuem todas as igrejas. Sherlock, bispo de Londres, e muitos outros sábios o refutam; os mesmos filósofos ingleses acham escandaloso que um bispo anglicano tenha a opinião contrária da Igreja anglicana; e Warburten, ao se ver contrariado, chama ímpios a ditos filósofos, imitando a Arlequim, personagem da comédia titulada «O Ladrão da Casa», que depois de roubar e arrojar os móveis pela janela, vendo que na rua um homem levava alguns, gritou com toda a força de seus pulmões: – Pega ladrão!
Vale mais bendizer a revelação da imortalidade da alma e as das penas e recompensas depois da morte, que a soberba filosofia de homens que semeiam a dúvida. O grande César não acreditava; disse em pleno Senado, quando para impedir que matassem a Catilina, expôs seu critério, segundo o que a morte não deixava no homem nenhum sentimento, e tudo morria com ele. Ninguém refutou esta opinião.