MARIA
- Quereis vós saber, mãe, uma tristeza muito grande que tenho? A mãe já não chora, não? já se não infada comigo?
MADALENA
- Não me infado contigo nunca, filha; e nunca me afliges, querida. O que tenho é o cuidado que me dás, é o receio de que…
MARIA
- Pois aí está a minha tristeza; é esse cuidado em que vos vejo andar sempre por minha causa. Eu não tenho nada, e tenho saúde, olhai que tenho muita saúde.
MADALENA
- Tens, filha… se Deus quiser, hás-de ter; e hás-de viver muitos anos para consolação e amparo de teus pais que tanto te querem.
MARIA
- Pois olhai: passo noites inteiras em claro a lidar nisto, e a lembrar-me de quantas palavras vos tenho ouvido, e a meu pai… e a recordar-me da mais pequena acção e gesto, e a pensar em tudo, a ver se descubro o que isto é, o porque, tendo-me tanto amor… que, oh! isso nunca houve decerto filha querida como eu!…
MADALENA
- Não, Maria.