(extraído do livro: Romance, Richard Freedman, 1978 - Editorial Verbo) O romance inglês começa a sua longa e brilhante carreira no jardim bem tratado e cheio de sombras da casa que um tal de Samuel Richardson tinha construído para a família no subúrbio londrino de Hammersmith. Richardson, um homem opulento e muito vaidoso, por volta dos 40 anos, fazia-se adorar por uma corte de senhoras jovens, sentadas à volta dele. Um verdadeiro «jardim florido de damas», como diria mais tarde um seu biógrafo. Tudo era porém muito respeitável. As raparigas olhavam-no como um pai sabedor e amável, com quem se podia falar de assuntos que elas não confessariam a ninguém, como casos de amor. Richardson dava sempre um bom conselho, e até se encarregava de escrever cartas para as suas fans – cartas dirigidas aos seus pretendentes, que conseguiam criar, melhor que as cartas escritas pelas raparigas, o ambiente verdadeiramente desejado num namoro do século XVIII. Até aí, Samuel Richardson não tinha ainda escrito nada a não ser a sua correspondência comercial, algum anúncio da sua tipografia e um curioso livro chamado «O vade mecum do aprendiz», no qual dava úteis conselhos a respeito da moral e de negócios aos jovens ansiosos por triunfar – como tinha feito o próprio Richardson – na carreira do comércio. Todavia, estava empenhado nesta altura em escrever um livro de cartas para todos os fins, que esperava imprimir com um bom lucro. Uma dessas cartas era «De um tio a um sobrinho, a respeito das más companhias, do mau emprego, do tempo, etc., na sua aprendizagem.» Os tios com sobrinhos desregrados não tinham mais que copiar a carta de Richardson e pôr-lhe os respectivos nomes. Ficava assim com a certeza de que a carta seria explícita, incisiva, além de bem pensada e elegante. |