A carta nº 138 é de «Um pai a uma filha que está a servir, por saber que o patrão atenta contra a virtude dela.» Ao escrevê-la, Richardson baseou-se num caso verdadeiro passado uns anos antes, em que uma criada resiste às tentativas de um jovem patrão. Lembrou-se de que a história da rapariga podia ser contada numa série de cartas – por exemplo entre a jovem e os pais, preocupados e morando a milhas de distância – e de que o livro em questão seria, ao mesmo tempo, interessante e instrutivo, não só para raparigas novas, mas para toda a gente que tivesse problemas de amor e de moral. Em três meses a história «Pamela» estava escrita e tinha nascido o Romance Inglês. Para compreender o significado deste acontecimento, é necessário examinar duas questões chave: porque nasceu o romance exatamente naquele ano, 1740, e porquê filho de um pai tão pouco desejável como um fútil impressor, com o temperamento menos «artístico» que se possa imaginar, Samuel Richardson? Afinal os gregos já tinham inventado a novela, escrevendo clássicos de narrativas em prosa, como Dáfnis e Cloé, de Longus, 250 DC. As histórias narradas em prosa na idade média atingiram o auge com a maravilhosa seleção de histórias de Boccaccio, Decameron. Cervantes, contemporâneo de Shakespeare, publicara uma das mais sublimes novelas do mundo e das mais influentes nos futuros romancistas ingleses, Dom Quixote, em princípio do século XVII. Até mesmo em Inglaterra, Daniel Defoe, cerca de 20 anos antes de «Pamela», queixava-se no prefácio da sua Moll Flanders de que «o mundo está cheio de novelas e romances». |