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Capítulo 1: I

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- “Quem quer que sejas” - disse o cetim - “não te gabo o gosto! Tomara eu saber o que vês em mim, que tanta impressão te faz!”

- “Nada” ¬ respondeu o veludo.

- “Então, deixa-me, ou diz-me alguma coisa ainda que seja uma sensaboria, mais eloquente que o teu silêncio.”

- “Não te quero embrutecer. Sei que tens muito espírito, e seria um crime de lesa-Carnaval se te dissesse alguma dessas graças salobras, capazes de fazer calar para todo o sempre um Demóstenes de dominó.

O cetim mudou de opinião a respeito do seu perseguidor. E não admira que o recebesse com rudeza no princípio, porque, em Portugal, um dominó em corpo de mulher, que passeia “sozinha” num teatro, permite umas suspeitas que não abonam as virtudes do dominó, nem lisonjeiam a vaidade de quem lhe recebe o conhecimento. Mas a mulher em quem recai semelhante hipótese não conhece Demóstenes, nem diz lesa-Carnaval, nem aguça a frase com o adjectivo salobras.

O cetim arrependeu-se da aspereza com que recebera os atenciosos olhares daquela incógnita, que principiava a fazer-se valer como tudo aquilo que apenas se conhece por uma face boa. O cetim juraria, pelo menos, que aquela mulher não era estúpida. E, seja dito sem tenção ofensiva, já não era insignificante a descoberta, porque é mais fácil descobrir um mundo novo que uma mulher ilustrada. É mais fácil ser Cristóvão Colombo que Emílio Girardin.

O cetim, ouvida a resposta do veludo, ofereceu-lhe o braço, e gostou da boa vontade com que lhe foi recebido.

- “Conheço” - diz ele - “que o teu contacto me espiritualiza, belo dominó...”

- “Belo, me chamas tu!... É realmente uma leviandade que te não faz honra!... Se eu levantasse esta sanefa de seda, que me faz bonita, ficavas como aquele poeta espanhol que soltou uma exclamação de terror na presença de um nariz.

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 2

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46