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Capítulo 5: V

Página 22
V

“Carlos.

» Sem ofender as leis da civilidade, continuo a dar-te o tratamento do dominó, porque, em boa verdade, eu continuo a ser para ti um dominó moral, não é assim?

» Passaram-se catorze dias, depois que tiveste o mau encontro de uma mulher, que te privou de algumas horas de deliciosa intriga. Vítima da tua delicadeza, levaste o sacrifício a ponto de te mostrares interessado na sorte dessa célebre desconhecida que te mortificou. Não serei eu, generoso Carlos, ingrata a essa manifestação cavalheirosa, embora ela será um rasgo de artista, e não um desejo espontâneo.

» Queres saber porque tenho demorado catorze dias este grande sacrifício que vou fazer? É porque ainda hoje me levanto de uma febre incessante, que me insultou naquele camarote da segunda ordem, e que, neste momento, parece declinar.

» Permita Deus que seja longo o intervalo para ser longa a carta: mas eu sinto-me tão pequena para os sacrifícios grandes!... Não te quero responsabilizar pela minha saúde; mas, se o meu silêncio de longos tempos suceder a esta carta, conjectura, meu amigo, que Henriqueta caiu no leito, donde há-de erguer-se, se não é graça que os mortos hão-de erguer-se um dia.

» Queres apontamentos para um romance que terá o mérito de ser português? Vou dar-tos.

» ‘Henriqueta nasceu em Lisboa. Seus pais tinham o lustre dos brasões, mas não brilhavam nada pelo ouro. Viviam sem fausto, sem história contemporânea, sem bailes e sem bilhetes de boas-festas. As visitas que Henriqueta conhecia eram, no sexo feminino, quatro velhas suas tias, e, no masculino, quatro caseiros que vinham anualmente pagar as rendas, com que seu pai regulava economicamente uma nobre independência.’

» ‘O irmão de Henriqueta era um moço de talento, que grajeara uma instrução, enriquecida sempre pelos desvelos com que afagava a sua paixão única.

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pág. 22 (Capítulo 5)

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 22

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46