47 -( Baco aparece em sonho a um sacerdote maometano )
A isto mais se ajunta que um devoto
Sacerdote da lei de Mafamede,
Dos ódios concebidos não remoto
Contra a divina Fé, que tudo excede,
Em forma do Profeta falso e noto,
Que do filho da escrava Agar procede,
Baco odioso em sonhos lhe aparece,
Que de seus ódios ainda se não desse.
48 - ( Fala de Baco ao sacerdote maometano )
E diz-lhe assim: “Guardai-vos, gente minha,
Do mal que se aparelha pelo inimigo
Que pelas águas húmidas caminha,
Antes que esteis mais perto do perigo.”
Isto dizendo, acorda o Mouro asinha,
Espantado do sonho; mas consigo
Cuida que não é mais que sonho usado:
Torna a dormir quieto e sossegado.