O vocábulo "ensaio", que significa "experiência", "exame", "prova", "tentativa", designa um espécime literário de contorno indefinível. Como o próprio rótulo evidencia, torna-se praticamente impossível estabelecer com rigorosa precisão os limites do ensaio. Daí que os estudioso do assunto tendam a reunir sob idêntica denominação obras contrastantes, enquanto certos autores empregam abusivamente a palavra “ensaio” no título dos seus livros.
Montaigne foi quem criou o ensaio e o batizou com os Essais, publicados em 1580. Entretanto, admitido um conceito amplo de ensaio, pode-se dizer que desde a antiguidade era praticado, ainda que sem o apelativo por que veio a ser conhecido. Assim, a Poética de Platão, as Meditações de Marco Aurélio, os escritos de Séneca, Plutarco, Teofrasto, e outros, têm sido alinhados na mesma rúbrica. Entretanto, é dos Ensaios de Montaigne que deriva a conceituação moderna acerca da matéria e o modelo seguido desde o século XVI, com algumas mudanças impostas pela natural evolução da atividade literária.
Há que distinguir o ensaio do tratado e manual ou qualquer obra de carater expositivo ainda que de estrita natureza literária: Por exemplo, a Teoria Literária, (1948) de René Wellek e Austin Warren, não se enquadra no perímetro do ensaio.
Dependendo do assunto em análise, o ensaio pode ser literário, filosófico, antropológico, sociológico, etc. Nesses casos, o termo “ensaio” parece antes equivaler a “proposta” ou denunciar um impulso de modéstia, que apontar um texto elaborado segundo as normas da obra de Montaigne.
O ensaio contém a discussão livre, pessoal, de um assunto qualquer. O ensaísta não procura provar ou justificar as suas ideias, nem se preocupa em lastreá-las eruditamente, nem, mesmo ainda, esgotar o tema escolhido; preocupa-o, fundamentalmente, desenvolver por escrito um raciocínio, uma intuição. Daí que o ensaio constitua também uma manifestação de humildade, e faça da brevidade e da clareza de estilo os seus esteios máximos: o ensaísta conhece por experiência as limitações do saber humano e que os torneios frásicos absconsos, o vocabulário especioso e bizantino, os neologismos forçados, etc., não raro escondem o vazio intelectual.
O ensaio vale menos pelo acerto ou procedência das ideias que pelos horizontes que descortina aos dois interlocutores, um activo porque compõe o escrito, outro passivo até certo ponto, porque reage aos conceitos expendidos, acolhendo-os ou refutando-os.
in Dicionário de termos literários, Massand Moisés, 1974