- Com a mesma. Decerto vai forrá-la e casar-se com ela. Aquilo é um maluco capaz de todas as asneiras.
- E que mau! Terá ao mesmo tempo mulher e talvez uma boa cozinheira. Triste consolação!
O estigma do cativeiro não podia apagar da bela fronte de Isaura, antes mais realçava o cunho de superioridade que o sopro divino nela havia gravado em caracteres indeléveis.
Entre os mancebos a impressão era bem diferente. Poucos, bem poucos, deixavam de tomar vivo interesse e compaixão pela sorte da infeliz e formosa escrava. Por todos os cantos falava-se e discutia-se com calor a respeito do caso. Alguns, a despeito da evidência dos indícios e da confissão de Isaura, ainda duvidavam da verdade que tinham diante dos olhos.
- Não; aquela mulher não pode ser uma escrava, - diziam eles, - aqui há algum mistério, que algum dia se desvendará.
- Qual mistério? o caso é muito factível, e ela mesma o confessou. Mas quem será esse bruto e desalmado fazendeiro, que conserva no cativeiro uma tão linda criatura?
- Deve ser algum lorpa de alma bem estúpida e sórdida.
- Se não for algum sultãozinho de bom gosto, que a quer para o seu serralho.
- Seja como for, esse bruto deve ser constrangido a dar-lhe a liberdade. Na senzala uma mulher que merecia sentar-se num trono!...
- Também só o infame do Martinho, com o seu satânico instinto de cobiça, poderia farejar uma escrava na pessoa daquele anjo! que impudência! se o visse agora aqui, era capaz de estrangulá-lo!
Entretanto, Martinho, que se havia previamente munido de um mandado de apreensão, e se fazia acompanhar de um oficial de justiça, exigia terminantemente que se lhe fizesse entrega de Isaura.