O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 70 / 111

Quando por fim, chegada a hora do chá, se decidiu a entrar, esperava-o urna surpresa. Surgindo à entrada da porta, já do lado de dentro, os olhos azuis brilhando-lhe, luminosos, no rosto vermelho e vivo, a 'cabeça ligeiramente descaída para a frente corno era seu hábito, deteve-se ao entrar, hesitando um pouco no limiar da porta para observar o interior da sala, atento e cauteloso como sempre, antes de avançar. Trazia vestido um colete de mangas compridas. O seu rosto, qual baga de azevinho, assemelhava-se extraordinariamente a um qualquer elemento exterior que, de repente, ali tivesse irrompido, corno se parte do mundo de lá de fora penetrasse portas adentro corno um intruso. Nos escassos segundos em que se quedou, hesitante, à entrada da porta, apercebendo-se das duas mulheres sentadas à mesa, cada urna em sua ponta, observando-as então com olhos agudos e penetrantes. E, para seu grande espanto, verificou que March estava com um vestido de crepe de seda verde-escuro. Ficou boquiaberto, tal foi a surpresa. Ele não ficaria mais surpreendido se ela porventura aparecesse subitamente de bigode.

- Mas então - disse ele - afinal também usa vestidos?

Ela ergueu os olhos, duas fundas manchas róseas nas faces ruborizadas, e, franzindo a boca num sorriso, respondeu:

- É claro que sim. Que outra coisa esperava que eu usasse senão um vestido?

- Bom, um traje de rapariga do campo, é evidente - retorquiu ele.

- Oh! - exclamou ela num tom de indiferença. - Isso é só para este sujo e imundo trabalho cá da quinta.

- Então não é esse o seu traje vulgar? indagou ele.

- Não, pelo menos para trazer por casa volveu ela. Mas não deixou de corar enquanto lhe servia o chá.





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