O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 71 / 111

Ele sentou-se à mesa, puxando a sua cadeira do costume, totalmente incapaz de desviar os olhos daquela figura. O vestido era um vestido inteiro, muito simples, de crepe azul-esverdeado, com uma tira dourada cosida à volta da gola e outra a debruar as mangas. Era um vestido de mangas curtas, não passando do cotovelo, de corte direito, muito sóbrio, com uma gola redonda que deixava ver o seu pescoço alvo e macio. Os braços, fortes e musculados, de músculos firmes e bem feitos, já ele conhecia, pois vira-a muitas vezes de mangas arregaçadas. Contudo, ele olhava-a como que hipnotizado, mirando-a e remirando-a da cabeça aos pés.

Banford, sentada na outra ponta da mesa, não dizia palavra, mas manifestava o seu nervosismo na forma ruidosa como virava e revirava a sardinha que tinha no prato. Mas ele esquecera-se totalmente da sua existência, quedando-se, embasbacado, a olhar para March enquanto ia comendo o seu pão com margarina a grandes dentadas, sem sequer ligar ao chá já quase frio.

- Bem, nunca vi nada que mudasse assim tanto uma pessoa! - murmurou entre duas dentadas.

- Oh, meu Deus! - exclamou March, cada vez mais ruborizada. - Devo estar com um ar de bicho do outro mundo!

E, levantando-se rapidamente, pegou no bule e levou-o para a cozinha, voltando a pôr a chaleira ao lume. E quando ela se debruçou sobre a lareira, agachando-se, com o seu vestido verde colado ao corpo, o rapaz contemplou-a com olhos ainda mais esbugalhados do que antes. Através do crepe, as suas formas de mulher pareciam agora suaves e femininas. Ao voltar a erguer-se, dando alguns passos na cozinha, ele viu-lhe as pernas gráceis movendo-se, suaves, sob a saia curta cortada à moda. Calçara umas meias de seda preta e uns sapatinhos de verniz com graciosas fivelas douradas.





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