Não, não podia ser a mesma pessoa. Estava mudada, parecia-lhe alguém totalmente diferente. Acostumado a vê-la sempre vestida com os seus pesados calções, largos e folgados nas ancas, apertados nos joelhos, maciços como uma couraça,• com umas grevas castanhas e pesadas botas, nunca lhe ocorrera que ela tivesse pernas e pés de mulher. E, de repente, vendo-lhe as pernas finas moldadas pela saia, dava-se conta disso, apercebia-se do seu ar feminino, acessível. Sentindo-se corar até à raiz dos cabelos, enfiou o nariz na chávena e sorveu o chá algo ruidosamente, facto que fez com que Banford se remexesse toda na cadeira. E, de súbito, algo de estranho sucedeu: sentiu-se um homem, já não um jovem mas sim um homem, um homem adulto, maduro. Sentiu-se um homem com todo o peso das graves responsabilidades do homem adulto. E uma estranha calma, uma espécie de gravidade abateu-se sobre ele, invadindo-lhe o espírito, dominando-lhe a mente. Sentiu-se um homem, calmo e tranquilo, a alma algo opressa pelo peso do seu destino de macho.
Suave e acessível no seu vestido... Este pensamento dominou-o com a força avassaladora de uma nova responsabilidade, de uma responsabilidade para sempre presente.
- Oh, por amor de Deus! Digam alguma coisa, não estejam assim tão calados! - explodiu Banford, enervada e indisposta. - Isto mais parece um funeral. - O rapaz olhou então para ela. Incapaz de suportar aquele rosto, ela viu-se obrigada a desviar a cabeça.
- Um funeral! - exclamou March, crispando a boca num sorriso. - Oh, isso vai ao encontro do meu sonho!
Viera-lhe subitamente à ideia a visão de Banford jazendo na caixa de madeira por único caixão.
- Porquê, estiveste a sonhar com um casamento? - disse Banford, com ácido sarcasmo. - Sim, se calhar estive - respondeu March.