Assim, ela voltou para casa. Estava silênciosa, atarefada. Examinou e limpou a arma, perdida em abstratos devaneios, a mente divagando à luz da lâmpada. E depois voltou a saír, ao luar, para ver se estava tudo em ordem. Mas quando viu as cristas negras dos pinheiros recortadas no céu sanguíneo, o coração acelerou-se-lhe de novo batendo pelo raposo, sempre pelo raposo. E teve vontade de retomar a sua busca, de espingarda na mão.
Passaram alguns dias antes de ela mencionar o caso a Banford. Então, uma tarde, disse de súbito:
- Na noite de sábado passado, o raposo esteve mesmo ao pé de mim.
- Onde? - disse Banford, abrindo muito os olhos por detrás dos óculos.
- Quando estava ao pé da lagoa.
- Deste-lhe um tiro? - gritou Banford.
- Não, não dei.
-Porque não?
- Bem, suponho que fiquei demasiado surpreendida, só isso.
Era esta a velha maneira de falar que March sempre tivera, lenta e lacónica. Banford observou a amiga por alguns instantes.
- Mas viste-lo? - exclamou ela.
- Claro que sim! Ele estava a olhar para mim, impávido e sereno, como se não fosse nada com ele.
- Não me digas! - gritou Banford. - Que descaramento! Não têm medo nenhum de nós, Nellie, é o que te digo.
- Lá isso não - disse March.
- Só é pena que não lhe tenhas dado um tiro - acrescentou Banford.
- Sim, é pena! Desde então que tenho andado à procura dele. Mas não creio que volte a aproximar-se tanto da próxima vez.
- Sim, também acho - concordou Banford. E esforçou-se por esquecer o caso, apesar de se sentir mais indignada do que nunca com o atrevimento daqueles ratoneiros. March também não tinha consciência de andar a pensar no raposo.