«Quero dizer- continuou Dupin enquanto eu me ria destas observações - que se o ministro fosse apenas um matemático, o prefeito não precisaria de me dar este cheque. Porém, eu sabia que ele é um matemático e um poeta e adaptei as minhas medidas à sua capacidade, referindo-me às circunstâncias que o rodeavam. Sabia também que é um cortesão e um intriguista ousado. Um homem destes estaria inevitavelmente ao corrente dos métodos da polícia. Não podia deixar de prever (e os factos confirmaram-no) as armadilhas que lhe prepararam. Deveria prever, reflecti eu, que a sua casa seria revistada em segredo. As suas ausências frequentes de casa durante a noite, que o nosso bom prefeito saudou com uma ajuda positiva ao seu êxito, considerei-as eu como ruses para facilitar as livres buscas da polícia e persuadi-los rapidamente (como conseguiu efectivamente) que a carta não se encontrava em casa. Senti também que toda a série de ideias relativas aos princípios invariáveis da acção da polícia em casos de buscas (ideias essas que tive o trabalho de te explicar há pouco), senti, dizia eu, que toda essa série de ideias passou necessariamente pela cabeça do ministro. E, obrigatoriamente, levou-o a desprezar qualquer esconderijo vulgar.