Na oitava noite fui ainda mais cauteloso a abrir a porta. O ponteiro pequeno de um relógio avança mais depressa do que avançava a minha mão. Nunca antes dessa noite sentira eu a imensidão dos meus poderes - da minha sagacidade. Mal podia conter a minha sensação de triunfo. Pensar que ali estava eu, abrindo a porta a pouco e pouco, e que ele nem sequer sonhava os meus actos ou os meus pensamentos secretos. Escapou-me uma risadinha; e talvez ele me tivesse ouvido; porque subitamente se mexeu na cama como sobressaltado. Agora talvez pense que me retirei - mas não. O quarto estava escuro como breu (pois as persianas estavam completamente fechadas por medo aos ladrões), e sabendo que ele não podia ver a abertura da porta, fui-a empurrando cada vez mais, cada vez mais.
Já havia enfiado a cabeça e preparava-me para destapar a lanterna quando o meu polegar escorregou na superfície de lata e o velho saltou na cama, gritando: «Quem está aí?»
Fiquei completamente imóvel e não respondi.