A Origem da Tragédia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 11 / 164

Visões e alucinações que se comunicavam a congregações religiosas e comunidades culturais, inteiras? Como? se os gregos, justamente na pujança da juventude, tivessem a vontade do trágico e fossem pessimistas? se fosse precisamente a loucura, para empregar um conceito de Platão, que trouxe à Hélade as maiores bênçãos? E se, pelo contrário, se tornavam os gregos, precisamente na época de sua dissolução e fraqueza, cada vez mais otimista, mais superficiais, mais afeitos à representações, portanto mais ardorosos segundo a lógica e o racionalismo do mundo, isto é, também mais “alegres” e mais “científicos”? Como? Poderia, em desafio a todas as “ideias modernas” e preconceitos do gosto democrático, a vitória do otimismo, a sensatez preponderante, o utilitarismo prático e teórico, que é igual à democracia, da qual é contemporâneo, ser um sintoma de força que submerge, da velhice próxima, do cansaço psicológico? E não precisamente o pessimismo? Era Epicuro um otimista, quando paciente? Como se vê é uma quantidade de perguntas difíceis, com que se sobrecarregou este livro, juntemos-lhe a questão mais difícil! O que significa, sob o ponto de vista da vida, — a moral?...

5.

Já no prólogo a Richard Wagner é exaltada a arte — e não a moral — como a atividade propriamente metafísica do homem. No livro mesmo, reaparece múltiplas vezes a frase de que só é justificada a existência do mundo como fenômeno estético. De fato, o livro todo conhece somente um senso e contrassenso de artista por trás de todo e qualquer acontecimento — um “deus” se assim se deseja, mas decerto somente um deus-artista, completamente induvidável e imoral, que quer permanecer igual a seu próprio prazer e magnificência, tanto no edificar como no destruir, no bem como no mal, que se livra do sofrimento das contradições, criando mundos por escassez de abundância e superabundância.





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