A Origem da Tragédia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 15 / 164

De fato, neste ínterim, aprendi a pensar desesperançado e desconsideradamente deste “ser alemão”, e igualmente da atual “música alemã”, como sendo totalmente romântica e a menos grega de todas as possíveis formas artísticas, sobretudo uma estragadora de nervos, duplamente daninha num povo que ama a bebida e que honra a inclareza como virtude, e isto em sua dupla propriedade de narcótico embriagador e, ao mesmo tempo, ofuscante. À parte, naturalmente, de todas as esperanças precipitadas e de utilização errônea para o presente, com que, naquele tempo, estraguei o meu livro, continua o grande ponto de interrogação dionisíaco, como lá foi colocado, também no tocante à música: como seria uma música, não mais de proveniência romântica, como a alemã, mas de proveniência dionisíaca?...

7.

Mas, meu caro, o que é que é romantismo se seu livro não é romântico? Pode-se levar o ódio contra a “atualidade”, a verdade e as “ideias modernas” mais adiante, do que foi levado em sua metafísica-artística? — Que prefere crer no nada, no diabo mesmo, do que no “agora”? Não zumbe o ódio e o desejo de destruição sob toda sua arte vocal de contraponto e sedução auditiva, uma resolução irada contra tudo que é “agora”, um desejo não muito distante do niilismo prático e que parece dizer: “melhor ser nada verídico do que vós terdes razão, do que ficar com a razão a vossa verdade”! Ouvi, senhor pessimista e divinizador da arte, ouvi com ouvido bem aberto um único trecho de vosso livro, não aquela passagem sem eloquência, que poderia soar para corações e ouvidos jovens como capciosa e atraente: não é esta, porventura, a legítima e real confissão romântica de 1830 sob a máscara do pessimismo de 1850? Atrás dela já preludia o final romântico comum e usual, — ruína, colapso, volta e queda ante uma fé antiga, ante o deus antigo...





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