Farsa de Inês Pereira - Cap. 2: Farsa de Inês Pereira Pág. 32 / 42

(vai-se)

Fica fechada Ines Pereira e lavrando canta:

INES

«Quem bem tem e mal escolhe,

Por mal que lhe venha não sanoje.»

Renego da discrição,

Comendo ó demo o aviso,

Que sempre cuidei que nisso

Stava a boa condição:

Cuidei que fossem cavaleiros

Fidalgos e escudeiros,

Não cheios de desvarios,

E em suas casas macios,

E na guerra lastimeiros.

Vêde que cavalarias,

Vêde ja que mouros mata

Quem sua molher maltrata,

Sem lhe dar de paz hum dia.

Sempre eu ouvi dizer

Que o homem que isto fizer

Nunca mata drago em vale,

Nem mouro que chamem Ale;

E assi deve de ser.

Juro em todo meu sentido

Que se solteira me vejo,

Assi como eu desejo,

Que eu saiba escolher marido,

À boa fé sem mao engano,

Pacífico todo o anno,

E que ande a meu mandar:

Havia-m’eu de vingar

Deste mal e deste dano.





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