Farsa de Inês Pereira - Cap. 2: Farsa de Inês Pereira Pág. 6 / 42

MÃE

Assi me fez dessa guisa

Outro, no tempo da poda.

Eu cuidei que era jôgo,

E ele... dae-o vós ao fogo!

Tomou-me tamanho riso,

Riso em todo meu siso,

E elle leixou-me logo.

LIANOR

Si, agora, eramá,

Tambem eu me ria ca

Das cousas que me dizia:

Chamava-me luz do dia:

Nunca te ôlho verá.

Se estivera de maneira

Sem ser rouca, bradár’eu;

Mas logo m’o demo deu

Catarrão e peitogueira,

Cócegas e cór de rir,

E coxa pera fugir,

E fraca pera vencer:

Porém pude-me valer

Sem me ninguém acudir.

O demo (e não póde al ser)

Se chantou no corpo delle.

MÃE

Mana, conhecia-te elle?

LIANOR

Mas queria-me conhecer!

MÃE

Vistes vós tamanho mal?

LIANOR

Eu m’irei ao Cardial,

E far-lh’ei assi mesura,

E contar-lhe-ei a aventura

Que achei no meu olival.





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