LIANOR
Não sei como tenho siso.
Jesu! Jesu! que farei?
Não sei se me va a elRei,
Se me vá ao Cardial.
MÃE
Como? e tamanho he o mal?
LIANOR
Tamanho? eu to direi.
Vinha agora pereli
Ó redor da minha vinha,
E hum clérigo, mana minha,
Pardeos, lançou mão de mi;
Não me podia valer,
Diz que havia de saber
Sera eu femea, se macho.
MÃE
Hui! seria algum mochacho,
Que brincava por prazer?
LIANOR
Si, mochacho sobejava
Era hum zote tamanhouço!
Eu andava no retouço,
Tão rouca que não falava.
Quando o vi pegar comigo,
Que m’achei naquele p’rigo,
Assolverei!, não assolverás –
– Jesu! homem, qu’has comtigo?
Irmam, eu te assolverei
Co breviairo de Braga.
– Que breviairo, ou que praga?
Que não quero: aqui d’elRei! –
Quando viu revolta a voda,
Foi e esfarrapou-me toda
O cabeção da camisa.