Numa pequena mesa, coberta por um pedaço de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia, enquanto o dono ou dona da carta ditava em voz alta o que queria mandar dizer à família. ou a algum mau devedor de roupa lavada. E ia lançando tudo no papel, apenas com algumas ligeiras modificações, para melhor, no modo de exprimir a ideia. Pronta uma carta, sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor.
— Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão, resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se se lhe dá furo à vida por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas por cá não correm lá para que digamos!
E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:
— Que eu tenho sentido