A Escrava Isaura - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 151 / 185

Advirto-lhe, para que mude de linguagem.

- Basta, senhor; deixemo-nos de vás disputas, e nem eu vim aqui para ser catequizado por V. S.ª. O que quero é a entrega da escrava e nada mais. Não me obrigue a usar do meu direito levando-a à força. Álvaro, desvairado por tão grosseiras e ferinas provocações, perdeu de todo a prudência e sangue-frio.

Entendeu que para sair-se bem na terrível conjuntura em que se achava, só havia um caminho, - matar o seu antagonista ou morrer-lhe às mãos, - e cedendo a essas sugestões da cólera e do desespero, saltou da cadeira em que estava, agarrou Leôncio pela gola e sacudindo-o com força:

- Algoz! - bradou espumando de raiva, - ai tens a tua escrava! mas antes de levá-la, hás de responder pelos insultos que me tens dirigido, ouviste?... ou acaso pensas que eu também sou teu escravo?..

- Está louco, homem! - disse Leôncio amedrontado. - As leis do nosso país não permitem o duelo.

- Que me importam as leis!... para o homem de brio a honra é superior às leis, e se não és um covarde, como penso...

- Socorro, que querem assassinar-me, - bradou Leôncio desembaraçando-se das mãos de Álvaro, e correndo para a porta.

- Infame! - rugiu Álvaro, cruzando os braços e rangendo os dentes num sorrir de cólera e desdém...

No mesmo momento, atraídos pelo barulho, entravam na sala de um lado Isaura e Miguel, do outro o oficial de justiça e os guardas. Isaura estava com o ouvido aguçado, e do interior da casa ouvira e compreendera tudo. Viu que tudo estava perdido, e correu a atalhar o desatino, que por amor dela Álvaro ia cometer.

- Aqui estou, senhor! - foram as únicas palavras que pronunciou apresentando-se de braços cruzados diante de seu senhor. - Ei-los ai; são estes! - exclamou Leôncio indicando aos guardas - Isaura e Miguel. Prendam-nos!.. prendam-nos!...





Os capítulos deste livro