A Escrava Isaura - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 61 / 185

Estes e outros quejandos enredos, que Rosa sabia habilmente insinuar nos ouvidos de sua senhora, eram bastantes para desvairar o espírito de uma cândida e inexperiente moça como Malvina, e foram produzindo o resultado que desejava a perversa mulatinha. Acabrunhada com aquele novo infortúnio, Isaura fez algumas tentativas para achegar-se de sua senhora, e saber o motivo por que lhe retirava a afeição e confiança, que sempre lhe mostrara, e a fim de poder manifestar sua inocência. Mas era recebida com tal frieza e altivez, que a infeliz recuava espavorida para de novo ir mergulhar-se mais fundo ainda no pego de suas angústias e desalentos.

Todavia, enquanto Malvina se conservava em casa, era sempre uma salvaguarda, uma sombra protetora, que amparava Isaura contra as importunações e brutais tentativas de Leôncio. Por menor que fosse o respeito, que lhe tinha o marido, ela não deixava de ser um poderoso estorvo ao menos contra os atos de violência, que quisesse pôr em prática para conseguir seus execrandos fins. Isaura ponderava isso tudo, e é custoso fazer-se ideia do estado de terror e desfalecimento em que ficou aquela pobre alma quando viu partir sua senhora, deixando-a inteiramente ao desamparo, entregue sem defesa aos insanos e bárbaros caprichos daquele que era seu senhor, amante e algoz ao mesmo tempo. De feito, Leôncio mal viu sumir-se a esposa por trás da última colina, não podendo conter mais a expansão de seu satânico júbilo, tratou logo de pôr o tempo em proveito, e pôs-se a percorrer toda a casa em procura de Isaura. Foi enfim dar com ela no escuro recanto de uma alcova, estendida por terra, quase exânime, banhada em pranto e arrancando do peito soluços convulsivos.





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