A Escrava Isaura - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 91 / 185

Capitulo 12

Agora os leitores já sabem, se é que há mais tempo não adivinharam, que a suposta Elvira não é mais do que a escrava Isaura, assim como Anselmo não passa do feitor Miguel, ambos os quais são já nossos conhecidos antigos. Como também sabem que Isaura não só era dotada de espírito superior, como também recebera a mais fina e esmerada educação, não lhe estranharam a distinção das maneiras, a elegância e elevação da linguagem, e outros dotes, que faziam com que essa escrava excepcional pudesse aparecer e mesmo brilhar no meio da mais luzida e aristocrática sociedade.

Foi a situação desesperada, em que via sua querida filha, que inspirou a Miguel o expediente extremo de uma fuga precipitada, exposta a mil azares e perigos. Lembrava-se ele com horror do miserando destino de que em iguais circunstâncias fora vítima a mãe de Isaura, e bem sabia que Leôncio, tão desalmado como o pai, e ainda mais corrupto e libertino, era capaz de excessos e atentados ainda maiores. Tendo perdido a esperança de libertar a filha, entendeu que podia utilizar-se da soma, que para esse fim tinha agenciado, empregando-a em arrancar a pobre vitima das mãos do algoz, por qualquer meio que fosse. Bem via que aos olhos do mundo tirar uma escrava da casa de seus senhores, e proteger-lhe a fuga, além de ser um crime, era um ato desairoso e indigno de um homem de bem; mas a escrava era uma filha idolatrada, e uma pérola de pureza, prestes a ser poluída ou esmagada pela mão de um senhor verdugo, e esta consideração o justificava aos olhos da própria consciência.

Bem se lembrara o infeliz pai de dar denúncia do fato às autoridades, implorando a proteção das leis em favor de sua filha para que não fosse vitima das violências e sevícias de seu dissoluto e brutal senhor.





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