» Ai tem, - acrescentou ele - a razão por que o homem de talento é perigoso na sociedade. O ódio inspira-lhe e eloquência da tração. A mulher que lhe ouve o astucioso hino das suas apaixonadas lamúrias, acredita-o, abandona-se, perde-se, e retira-se, por fim, gritando contra o seu algoz, e pedindo à sociedade que grite com ela.
» Agora, diz-me tu, Carlos, até que ponto devemos acreditar este doido. Eu por mim não me satisfaço com o seu sistema, todavia sinto-me propensa a aperfeiçoar o prisma do doido, até encontrar as cores inalteráveis do juízo.
» Seja o que for, eu creio que és uma excepção e não sofra com isto a tua modéstia. A tua carta fez-me chorar, e acredito que sofrias, escrevendo-a. Hás-de continuar a visitar-me espiritualmente na minha Tebaida, sem cilícios, sim? Agora conclua-se a história, que leva seus visos de folhetim filosófico, moral, social, e não sei que mais por aí se diz, que não vale nada.
» Contraí amizade com a filha do visconde do Prado. Não era ela, porém, tão íntima que me levasse a declarar-lhe que Vasco de Seabra não era meu irmão.
» Por ele me fora imposto, como preceito, o segredo de nossas relações.