Maria Moisés - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 43 / 86

– Um quê, homem? – Um crianço, que pesquei no rio.

– Tu estás tolo, Bernardo?

– Aqui o tens tal qual o topei engasgalhado num amieiro, berço e tudo. Olha que desgraça, ó Isabel!

A mulher benzeu-se; foi buscar a candeia; convenceu-se que era uma criança viva, pôs as mãos, olhou para o céu com profunda mágoa, e exclamou:

– Ó homem, o mundo está a acabar!

– Dá-lhe o peito quanto antes, senão o mundo acaba-se para ele. Aqui to deixo, que eu vou contar aos fidalgos este caso.

– Ai! – exclamou ela examinando a criança – é uma menina e ainda não tem cortada a invide!

Queria dizer que ainda não estava ligado o cordão umbilical. Isabel tinha a ciência prática da mãe de onze filhos, todos nascidos sem mais auxílio que o do seu homem e da sua serena coragem naquele acto. Confessava-se na véspera, comungava de madrugada, e depois, com o maior sossego da alma e muita conformidade com as dores, matava uma galinha e dizia ao marido:

– Vamos a isto, Bernardo.





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