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- Sim, ou será que o meu coração não vale o dela? - respondeu ele. - Achas que não, é?
- O teu coração? - repetiu ela, incrédula.
- Sim, o meu, o meu coração! Ou julgas que não tenho coração? - E, agarrando-lhe a mão com fervor, num caloroso amplexo, comprimiu-a de encontro ao peito, levando-a até ao lado esquerdo. - Aí tens o meu coração disse -, já que pareces não acreditar nele.
Foi o espanto que a fez ficar, prendendo-a ali. E sentiu então o poderoso bater do coração dele, forte e profundo, tão terrível como algo vindo do além. Sim, assemelhava-se a algo vindo dos abismos do além, a algo de medonho saído do outro mundo, a algo que a chamava, que a atraía irremediavelmente. E um tal apelo paralisou-a, invadindo-lhe o espírito, ecoando-lhe na alma, deixando-a fraca e indefesa. De imediato, esqueceu Jill. Pensar em Jill era-lhe doravante impossível. Não, não podia pensar nela. Sentia-se tão aturdida, tão confusa... Oh, aquele terrível apelo do exterior, aquele apelo do além!...
O rapaz enlaçou-a pela cintura, puxando-a ternamente para si.
- Vem comigo - disse com extrema suavidade. - Vem... Deixa que digamos um ao outro aquilo que temos para dizer.
E, arrastando-a para fora, fechou a porta atrás de si. Ela acompanhou-o então através da escuridão, seguindo pelo caminho do quintal, totalmente dominada pelo seu fascínio, pelo seu mistério. Logo havia ele de ter um coração que pulsasse daquela maneira! E logo havia de lhe ter posto a mão à volta da cintura, ainda por cima por debaixo da manta! Sentia-se demasiado confusa para pensar em quem ele era ou no que ele era.
Ele levou-a para dentro do barracão, puxando-a para um canto escuro onde havia um caixote de ferramentas com uma tampa, comprido e baixo.