Cheguei ao ponto de lamentar a perda do animal e de olhar à minha volta nas tabernas desprezíveis que frequentava agora habitualmente à procura de outro animalzinho da mesma espécie e de aparência quase semelhante com que substituir o gato enforcado.
Uma noite estava eu sentado, meio estupefacto, numa tasca mais que infame, quando a minha atenção foi atraída por um objecto preto que repousava sobre um dos imensos tonéis de gin ou rum que constituíam a principal mobília da sala. Já há alguns minutos que eu estava a olhar fixamente para o cimo desse tonel e o que me causava agora surpresa era o facto de não me ter ainda apercebido do objecto aí colocado. Aproximei-me e toquei-lhe com a mão. Era um gato preto - um gato muito grande -, praticamente tão grande como Plutão e absolutamente igual a ele, excepto num ponto. Plutão não tinha um único pêlo branco em todo o seu corpo; mas este gato tinha uma mancha larga e branca, de uma forma indecisa, que lhe cobria quase toda a região do peito.
Quando lhe toquei levantou-se imediatamente, ronronou fortemente, esfregou-se de encontro à minha mão e pareceu deliciado com a minha atenção. Era esta, então, a criatura de que eu andava à procura. Propus imediatamente ao proprietário comprar-lho; mas este homem não o reivindicou - não o conhecia - nunca o vira antes.
Continuei a acariciá-lo e quando me preparava para regressar a casa o animal mostrou-se disposto a acompanhar-me. Permiti que o fizesse, baixando-me de vez em quando e fazendo-lhe festas enquanto caminhava.
Quando chegou a casa adaptou-se imediatamente e em breve se tornava o preferido da minha mulher.
Pela minha parte senti rapidamente crescer dentro de mim uma antipatia contra ele. Isto era precisamente o contrário do que eu esperara; mas não sei como isto aconteceu nem porquê - a sua evidente ternura por mim aborrecia-me e quase me enojava.
