A Metamorfose - Cap. 2: Capítulo II Pág. 27 / 66

- Estarei agora menos sensível?, - pensou, ao mesmo tempo que sugava vorazmente o queijo, que, de toda a comida, era a que mais forte e imediatamente o atraía. Pedaço a pedaço, com lágrimas de satisfação nos olhos, devorou rapidamente o queijo, as hortaliças e o molho; por outro lado, a comida fresca não tinha atrativos para si; não podia sequer suportar-lhe o cheiro, que o obrigava até a arrastar para uma certa distância os pedaços que eram capazes de comer. Tinha acabado de comer havia bastante tempo e estava apenas preguiçosamente quieto no mesmo local, quando a irmã rodou lentamente a chave como que a fazer-lhe sinal para se retirar. Isto fê-lo levantar de súbito, embora estivesse quase adormecido, e precipitar-se novamente para debaixo do sofá. Foi-lhe necessária uma considerável dose de autodomínio para permanecer ali debaixo, dado que a pesada refeição lhe tinha feito inchar um tanto o corpo e estava tão comprido que mal podia respirar, Atacado de pequenos surtos de sufocação, sentia os olhos saírem um bocado para fora da cabeça ao observar a irmã, que de nada suspeitava, varrendo não apenas os restos do que comera, mas também as coisas em que não tocara, como se não fossem de utilidade fosse para quem fosse, e metendo-as, apressadamente, com a pá, num balde, que cobriu com uma tampa de madeira e retirou do quarto. Mal a irmã virou costas, Gregório saiu de baixo do sofá, dilatando e esticando o corpo.

Assim era Gregório alimentado, uma vez de manhã cedo, enquanto os pais e a criada estavam ainda a dormir, e outra vez depois de terem todos almoçado, pois os pais faziam uma curta sesta e a irmã podia mandar a criada fazer um ou outro recado. Não que eles desejassem que ele morresse de fome, claro está, mas talvez





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