A Origem da Tragédia - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 140 / 164

Colocados entre a Índia e Roma e impelidos à escolha sedutora, conseguiram os gregos descobrir, com pureza clássica, uma terceira forma, não para demorado uso próprio, mas, justamente por isso, para a eternidade. Pois é certo que os prediletos dos deuses morrem cedo, mas igualmente certo é que, depois, eles vivem eternamente com os deuses. Que não se exija do mais nobre a durabilidade do couro; a durabilidade sólida, como, por exemplo, era própria do impulso nacional romano, não pertence, provavelmente, aos predicados necessários da perfeição. Se, porém, inquirirmos sobre o remédio que possibilitou aos gregos de, durante seu tempo máximo, com a potência extraordinária de seus impulsos dionisíacos e políticos, não se esgotarem, nem por meditação extásica, nem por um desejo destruidor a potência e honra mundiais, mas sim de alcançarem aquela mistura maravilhosa, como a tem um vinho nobre, que ao mesmo tempo dispõe o ânimo à excitação e à contemplação, então é necessário lembrarmo-nos da força imensa da tragédia, que excitava e purificava toda a vida popular. Sentiremos o maior valor desta, somente quando ela se nos deparar, como se deparou aos gregos, constituindo o conteúdo de todas as forças profiláticas, como a mediadora que faz sentir o seu domínio entre as qualidades mais fortes e mais perigosas do povo.

A tragédia absorve o supremo orgiasmo musical, de maneira a aperfeiçoar, tanto entre os gregos como entre nós, a música em si; coloca depois, porém, ao seu lado o mito e o herói trágicos que então, igualando um titã poderoso, toma sobre seus ombros todo o mundo dionisíaco, dele nos libertando. De outro lado este mundo, pelo mesmo mito trágico, na pessoa do herói trágico, sabe libertar-se do impulso ávido a esta existência, recordando-nos uma outra existência e um prazer maior, para os quais se prepara o herói combatente por suas derrotas, não por suas vitórias.





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