Aquele que não chegou a ver, ansiando-se ao mesmo tempo para muito além daquilo que via, dificilmente poderá representar-se quão determinada e claramente existem, paralelamente, ambos os processos na consideração do mito trágico e quão determinada e claramente são sentidos; enquanto os verdadeiros espectadores estéticos poderão confirmar que, entre os efeitos estranhos da tragédia, é, sem dúvida, aquele paralelismo o mais digno de nota. Transfira-se agora este fenômeno do espectador estético, num processo analógico, ao artista trágico, e ter-se-á entendido a gênesis do mito trágico. Ele compartilha com a esfera apolínica da arte do prazer total na aparência e no olhar, mas nega ao mesmo tempo este prazer, tendo satisfação ainda superior na destruição do mundo-aparente visível. O conteúdo do mito trágico é, primeiramente, um acontecimento épico com a glorificação do herói combatente. De onde procede, porém, aquele traço enigmático de que o sofrer no destino do herói, as vitórias mais dolorosas, as mais tormentosas contradições de motivos, enfim, exemplificação daquela sabedoria de Sileno, ou, expresso esteticamente, o feio e o desarmonioso, é representado em formas tão numerosas e, justamente na idade mais exuberante e jovem de um povo, se não se percebe nisto tudo um prazer muito mais elevado?
Porque a resposta de que, de fato, a vida é tão trágica, explicaria ainda menos a origem de uma forma artística, se a arte não for apenas imitação da realidade da natureza, mas sim um suplemento metafísico desta realidade da natureza, colocada junto a esta para a vencer.