A Origem da Tragédia - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 47 / 164

Quem considera, segundo esta teoria, uma coleção de canções populares — por exemplo a do rapaz corneteiro — este achará exemplos intermináveis de como a melodia, que continuamente produz, joga centelhas de imagens em seu redor; que em seu colorido, em sua mudança repentina e até em sua precipitação louca, manifestam uma força totalmente estranha à aparência épica e seu correr tranquilo. Do ponto de vista da epopeia, é simplesmente condenável este mundo de imagens, desigual e irregular, do lirismo; e tal fizeram decerto as rapsódias épico-festivas das cerimônias apolínicas na época de Terpandro.

Vemos, portanto, no poetar da canção popular, a língua esforçada o mais possível para imitar a música; pelo que se inicia com Arquíloco um novo mundo da poesia que é, em seu fundo mais íntimo, contrário à poesia homérica. Com isto indicamos a única relação possível entre poesia e música, palavra e som; a palavra, a imagem, o conceito procuram uma expressão análoga à música e sofrem agora em si o poder da música. Neste sentido podemos distinguir duas correntes principais na história linguística do povo grego, segundo a língua imitasse o mundo das imagens e dos fenômenos, ou o da música. Reflita-se, uma vez mais e profundamente, sobre a diferença linguística do colorido, da construção sintática, da espécie de palavras entre Homero e Píndaro e entender-se-á o significado deste contraste. Sim, quando refletimos a este respeito, torna-se-nos claro que entre Homero e Píndaro devem ter ressoado os sons orgiásticos da flauta do Olimpo, que ainda na época de Aristóteles, de permeio a uma música infinitamente mais evoluída, arrastavam ao entusiasmo delirante, e que decerto incitaram à imitação, em seus efeitos primitivos, todos os meios de expressão dos contemporâneos.





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