Farsa de Inês Pereira - Cap. 2: Farsa de Inês Pereira Pág. 37 / 42

LIANOR

Vou-me; ficae-vos embora. (vai-se)

INES

Marido, e sahirei eu agora,

Que ha muito que não sahi?

PERO

Sim, molher, sahi vós hi,

Qu’eu me sahirei p’ra fóra.

INES

Marido, não digo isso.

PERO

Pois que dizeis vós, molher?

INES

Ir folgar onde eu quiser.

PERO

I onde quiserdes ir,

Vinde quando quiserdes vir,

Stae onde quiserdes ’star.

Com que podeis vós folgar

Qu’eu não deva consentir?

Vem hum Ermitão pedir esmola, e diz:

Señores, por caridad

Dad limosna al dolorido

Ermitaño de Cupido

Para siempre en soledad,

Pues su siervo soy nacido.

Por ejemplo,

Me meti en su santo tempo

Ermitaño en pobre ermita,

Abastada de infinita

Tristeza en que contemplo.

Aonde reso mis horas

Y mis dias y mis años,

Mis servicios y mis daños,

Donde tú, mi alma, lloras,

Dolor de tantos engaños.





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