A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 99 / 205

Trabalhava para tornar-se frio, calculista, para pôr em evidência, sob maneiras amáveis e artifícios de sedução, as riquezas morais que recebera do acaso; verdadeira tarefa de ambicioso; triste papel, empreendido com a mira de atingir o que hoje chamamos uma bela posição. Lançava um último olhar aos salões onde se dançava. Queria, sem dúvida, antes de deixar o baile, gravar-lhe a imagem no espírito, como um espectador não sai do seu camarote na Ópera sem ter visto a cena final. Mas, ao mesmo tempo, por uma fantasia fácil de compreender, Carlos de Vandenesse estudava aquele conjunto puramente francês, o brilho e os rostos risonhos daquela festa parisiense, comparando-os pelo pensamento com as fisionomias novas, as cenas pitorescas que o aguardavam em Nápoles, onde tencionava demorar-se alguns dias, antes de se dirigir ao seu posto. Parecia comparar a França, tão mutável e tão fácil de estudar, a um país cujos costumes e lugares apenas conhecia por informações mais ou menos contraditórias, ou por livros em geral malfeitos. Algumas reflexões assaz poéticas, mas que hoje se tornaram muito vulgares, passaram-lhe então pela mente e responderam, a seu despeito talvez, aos secretos desejos do seu coração, mais exigente do que embotado, mais desocupado que indiferente.

- Eis - dizia para si - as mulheres mais elegantes, mais ricas, mais distintas de Paris. Aqui, as celebridades do dia, nomes famosos na tribuna, na aristocracia, na literatura; artistas, homens poderosos. E, contudo apenas noto intrigas mesquinhas, amores mortos ao nascer, sorrisos que nada dizem, desdéns sem causa, olhares sem brilho, muito espírito, porém prodigalizado sem um fim útil. Todos esses rostos brancos e rosados procuram menos o prazer que as distrações. Nenhuma emoção é verdadeira.





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