O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 177 / 279

- Vamos, mamã Vauquer, duas de champanhe - gritou Vautrin.

- Era o que faltava! Por que não pedir a casa? Duas de champanhe! Mas isso custa 12 francos! Não os ganho, eu! Mas se o senhor Eugène quer pagar, eu ofereço cássis.

- Aqui vem o cássis dela que cheira mal como sabe - disse o estudante de Medicina em voz baixa.

- Queres calar-te, Bianchon! - gritou Rastignac. - Bom, está bem pelo vinho de champanhe, eu pago - acrescentou o estudante.

- Sylvie - disse a senhora Vauquer -, traz os biscoitos e as miniaturas.

- As suas miniaturas são demasiado grandes - disse Vautrin. - Já têm barba. Mas quanto aos biscoitos, venham eles.

Num instante, o vinho de Bordéus circulou, os convivas animaram-se, a alegria duplicou. Havia risos ferozes, no meio dos quais rebentaram algumas imitações de diversas vozes de animais. O empregado do Museu de História Natural tendo-se proposto imitar um grito de Paris que tinha analogia com o miar do gato apaixonado, logo oito vozes gritaram simultaneamente as seguintes frases:

Para afiar as facas!

Milho para os passarinhos!

Para o prazeres dessas senhoras, aqui está o prazer! Faiança consertada!

Olha as belas ostras! Ostras bonitas! Olha o belo fato, novinho para o senhor!

Velhos fatos, velhas divisas, velhos chapéus para venda! Olha a bela e doce cereja!

A taça foi para Bianchon por imitar com uma pronúncia anasalada: vendedor de chapéus de chuva! Em poucos momentos instalou-se um alarido de partir a cabeça, um discurso sem nexo, uma verdadeira ópera que Vautrin dirigia como um chefe de orquestra, vigiando Eugène e o pai Goriot, que já pareciam estar bêbedos. Com as costas apoiadas nas cadeiras, ambos contemplavam esta desordem tão pouco usual com um ar grave, bebendo pouco, ambos estavam ocupados com aquilo que tinham de fazer durante o serão, e no entanto sentiam-se incapazes de se levantarem.





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