O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 200 / 279

todos ao mesmo tempo a menina Michonneau fraca, seca e fria como uma múmia, enroscada junto do fogão, de olhos baixos, como se tivesse temido que a sombra da pala não fosse suficientemente forte para esconder a expressão dos seus olhares. Esta figura, que lhes era antipática desde há muito, ficou de repente explicada. Um murmúrio, que, pela perfeita unidade de som, traía um asco unânime, ressoou surdamente. A menina Michonneau ouviu-o e ficou. Bianchon, o primeiro, inclinou-se para o vizinho.

- Eu saio se esta mulher continuar a jantar connosco - disse em voz baixa.

Num piscar de olhos, todos menos Poiret aprovaram a proposta do estudante de Medicina, que, apoiado pela adesão geral, avançou para o velho pensionista.

- O senhor que está particularmente ligado à menina Michonneau - disse-lhe - fale com ela, faça-lhe compreender que deve sair agora mesmo.

- Agora mesmo? - repetiu Poiret, espantado.

Depois veio ao pé da mulher e disse-lhe algumas palavras ao ouvido. - Mas o meu mês está pago, estou aqui pelo dinheiro como toda a gente - disse ela, lançando um olhar de víbora sobre os pensionistas.

- Não seja por isso, iremos cotizar-nos para lho devolver - disse Rastignac.

- O senhor apoia Collin - respondeu ela, lançando sobre o estudante um olhar venenoso e interrogador -, não é difícil saber porquê.

A essa palavra, Eugène saltou como para se atirar sobre a mulher e estrangulá-la. Esse olhar, do qual compreendeu a perfídia, acabava de lançar uma horrível luz na sua alma.

- Deixe-a! - gritaram os pensionistas. Rastignac cruzou os braços e ficou mudo.

- Acabemos de vez com a menina Judas - disse o pintor, dirigindo-se à senhora Vauquer. Minha senhora, se não põe na rua a Michonneau, deixaremos todos a sua casa e diremos por todo o lado que cá só se encontram espiões e evadidos.





Os capítulos deste livro