O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 201 / 279

Caso contrário, todos nos calaremos sobre este acontecimento, que, ao fim ao cabo, poderia acontecer nas melhores sociedades, até que os forçados das galés sejam marcados na testa e que se lhes proíba mascararem-se de burgueses em Paris e de se tomarem tão facilmente intrujões como o são todos.

Com este discurso, a senhora Vauquer recuperou miraculosamente a saúde, endireitou-se, cruzou os braços, abriu os olhos claros e aparentemente sem lágrimas.

- Mas, meu querido senhor, quer então a perda da minha casa? Foi o senhor Vautrin... «Oh! Meu Deus», pensou, interrompendo-se a si própria. «Não consigo deixar de o chamar pelo nome de homem honesto!» - Aqui está - retomou -, um apartamento vazio, e quer que fique com mais dois para alugar numa época em que toda a gente já está alojada.

- Meus senhores, peguemos nos chapéus e vamos jantar à praça da Sorbonne, a casa de Flicoteaux - disse Bianchon.

A senhora Vauquer calculou com um só olhar qual era o partido mais vantajoso e desandou até junto da menina Michonneau.

- Então, minha querida, não quer a morte do meu estabelecimento, não é? Vê a que extremos me levam estes senhores, subi ao vosso quarto por esta noite.

- Nada disso - gritaram os pensionistas -, queremos que ela saia já neste instante.

- Mas ela ainda não jantou, esta pobre pequena - disse Poiret com uma voz sumida.

- Irá jantar onde quiser - gritaram várias vozes.

- Rua, sua denunciante!

- Rua, seus denunciantes!

- Senhores - gritou Poiret, que de repente adquiriu a coragem que o amor dá aos carneiros -, respeitai uma pessoa do sexo fraco. - Os denunciantes não têm sexo - disse o pintor.

- Famoso sexo rama!

- Ruarama!

- Senhores, isto é indecente. Quando se manda pessoas embora, deve-se fazê-lo com bons modos.





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