O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 206 / 279

cujos móveis e decoração podiam rivalizar com o que havia de mais belo, avistou, à luz das velas, Delphine, que se levantou de um sofá, ao canto da lareira, pousou a tela sobre a lareira, e disse-lhe com uma entoação na voz cheia de ternura.

- Foi então preciso ir buscá-lo, senhor, que nada compreende. Thérèse saiu. O estudante pegou Delphine nos braços, aperrou-a com força e chorou de alegria. Este último contraste entre aquilo que via e o que acabava de ver, num dia em que tantas irritações lhe tinham cansado o coração e a cabeça, provocou em Rastignac um acesso de sensibilidade nervosa.

- Eu bem sabia que ele te amava - disse baixinho o pai Goriot à filha enquanto Eugène, abatido, jazia sobre o sofá sem poder pronunciar uma palavra, nem se aperceber ainda da forma como este último toque de condão tinha sido dado.

- Mas vinde então ver - disse-lhe a senhora de Nucingen, pegando-lhe na mão e levando-o para um quarto onde os tapetes, os móveis e os mais pequenos detalhes lhe lembraram, em proporções menores, o de Delphine,

- Falta uma cama - disse Rastignac.

- Sim, senhor - disse ela, corando e apertando-lhe" a mão.

Eugène olhou-a e compreendeu, por muito jovem que ainda fosse, tudo o que havia de verdadeiro pudor no coração de uma mulher apaixonada.

- Você é uma dessas criaturas que se deve adorar sempre - disse-lhe • ao ouvido. - Sim, ouso dizer-lhe, visto nos entendermos tão bem, quan-

to mais vivo e sincero é o amor, mais ele deve ser: escondido, misterioso. Não revelemos o nosso segredo a ninguém.

- Oh! Eu não serei ninguém, eu - disse o pai Goriot grunhindo.

- Sabe bem que faz parte do nós...

- Ah! Eis o que eu queria. Não se incomodarão comigo, não é verdade?

Irei, virei como um bom espírito





Os capítulos deste livro