- Foi então preciso ir buscá-lo, senhor, que nada compreende. Thérèse saiu. O estudante pegou Delphine nos braços, aperrou-a com força e chorou de alegria. Este último contraste entre aquilo que via e o que acabava de ver, num dia em que tantas irritações lhe tinham cansado o coração e a cabeça, provocou em Rastignac um acesso de sensibilidade nervosa.
- Eu bem sabia que ele te amava - disse baixinho o pai Goriot à filha enquanto Eugène, abatido, jazia sobre o sofá sem poder pronunciar uma palavra, nem se aperceber ainda da forma como este último toque de condão tinha sido dado.
- Mas vinde então ver - disse-lhe a senhora de Nucingen, pegando-lhe na mão e levando-o para um quarto onde os tapetes, os móveis e os mais pequenos detalhes lhe lembraram, em proporções menores, o de Delphine,
- Falta uma cama - disse Rastignac.
- Sim, senhor - disse ela, corando e apertando-lhe" a mão.
Eugène olhou-a e compreendeu, por muito jovem que ainda fosse, tudo o que havia de verdadeiro pudor no coração de uma mulher apaixonada.
- Você é uma dessas criaturas que se deve adorar sempre - disse-lhe • ao ouvido. - Sim, ouso dizer-lhe, visto nos entendermos tão bem, quan-
to mais vivo e sincero é o amor, mais ele deve ser: escondido, misterioso. Não revelemos o nosso segredo a ninguém.
- Oh! Eu não serei ninguém, eu - disse o pai Goriot grunhindo.
- Sabe bem que faz parte do nós...
- Ah! Eis o que eu queria. Não se incomodarão comigo, não é verdade?
Irei, virei como um bom espírito