O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 212 / 279

- Amanhã é dia dos Italiens.

- Eu irei para a plateia - disse o pai Goriot.

Era meia-noite. O carro da senhora de Nucingen esperava. O pai Goriot e o estudante voltaram para a casa Vauquer conversando sobre Delphine com um entusiasmo crescente que produziu um curioso combate de expressões entre estas duas violentas paixões. Eugène não podia negar que o amor do pai, que nenhum interesse pessoal manchava, esmagava o dele pela sua persistência e tamanho. O ídolo era sempre belo e puro para o pai e a adoração dele constituía-se de todo o passado e do futuro. Encontraram a senhora Vauquer sozinha junto do fogão, entre Sylvie e Christophe. A velha hospedeira estava ali como Marius nas ruínas de Cartago. Esperava os dois únicos pensionistas que lhe restavam, lamentando-se com Sylvie. Apesar de lorde Byron ter dado belas lamentações a Tasso, estão bem longe da profunda verdade das que escapavam da boca da senhora Vauquer.

- Só haverá então três malgas de café a fazer amanhã, Sylvie. Hã! A minha casa deserta, não é de partir o coração? Que vida é a minha sem os meus pensionistas? Nada. Aqui está a minha casa sem os seus móveis que eram os homens. A vida está nos móveis. Que fiz eu a Deus para merecer tal castigo? As nossas provisões de feijão e de batatas são para 20 pessoas. A polícia na minha casa! Só vamos então comer batatas cozidas! Mandarei o Christophe embora!

O saboiano, que dormia, acordou de repente e disse:

- Minha senhora?

- Pobre rapaz! E como um cão de guarda - disse Sylvie.

- Uma época morta, todos já arranjaram quartos. De onde me irão cair pensionistas? Irei perder a cabeça. E esta sibila da Michonneau que me leva Poiret! Que lhe fará ela para ter conseguido agarrar esse homem, que a segue como um caniche?

- Ah, sabe-se lá! - disse Sylvie, abanando a cabeça.





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