CANTO III  
 
1 - (Invocação a Calíope) 
Agora tu, Calíope, me ensina 
O que contou ao Rei o ilustre Gama: 
Inspira imortal canto e voz divina 
Neste peito mortal, que tanto te ama. 
Assim o claro inventor da Medicina, 
De quem Orfeu pariste, ó linda Dama, 
Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe, 
Te negue o amor devido, como soe.
 
 
2  
Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo, 
Como merece a gente Lusitana; 
Que veja e saiba o mundo que do Tejo 
O licor de Aganipe corre e mana. 
Deixa as flores de Pindo, que já vejo 
Banhar-me Apolo na água soberana; 
Senão direi que tens algum receio, 
Que se escureça o teu querido Orfeio.