O Cortiço - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 172 / 239

Reconheceu-o logo e correu a abrir.

— Como?! É você, Jeromo?

— Chit! fez ele, pondo o dedo na boca. Fala baixo.

Rita começou a tremer: no olhar do português, nas suas mãos encardidas de sangue, no seu todo de homem ébrio, encharcado e sujo, havia uma terrível expressão de crime.

— Donde vens tu?... segredou ela.

— De cuidar da nossa vida... Ai tens a navalha com que fui ferido!

E atirou-lhe sobre a mesa a navalha de Firmo, que a mulata conhecia como as palmas da mão.

— E ele?

— Está morto.

— Quem o matou?

— Eu.

Calaram-se ambos.

— Agora... acrescentou o cavouqueiro, no fim de um silêncio arquejado por ambos; estou disposto a tudo para ficar contigo. Sairemos os dois daqui para onde melhor for... Que dizes tu?

— E tua mulher?...

— Deixo-lhe as minhas economias de muito tempo e continuarei a pagar o colégio à pequena. Sei que não devia abandoná-la, mas podes ter como certo que, ainda que não queiras vir comigo, não ficarei com ela! Não sei! já não a posso suportar! Um homem enfara-se! Felizmente minha caixa de roupa está ainda na Ordem e posso ir buscá-la pela manhã.

— E para onde iremos?

— O que não falta é p’r’onde ir! Em qualquer parte estaremos bem. Tenho aqui sobre mim uns quinhentos mil-réis, para as primeiras despesas. Posso ficar cá até às cinco horas; são duas e meia; saio sem ser visto por Piedade; mando-te ao depois dizer o que arranjei, e tu irás ter comigo... Está dito? Queres?

Rita, em resposta, atirou-se ao pescoço dele e pendurou-se-lhe nos lábios, devorando-o de beijos.

Aquele novo sacrifício do português; aquela dedicação extrema que o levava a arremessar para o lado família, dignidade, futuro, tudo, tudo por ela, entusiasmou-a loucamente. Depois dos sobressaltos desse dia e dessa noite, seus nervos estavam afiados e toda ela elétrica.

Ah! não se tinha enganado! Aquele homenzarrão hercúleo, de músculos de touro, era capaz de todas as meiguices do carinho.

— Então? insistiu ele.

— Sim, sim, meu cativeiro! respondeu a baiana, falando-lhe na boca; eu quero ir





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