A Escrava Isaura - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 124 / 185

Vi em um momento desmoronar-se e desfazer-se em lama o brilhante castelo que minha imaginação com tanto amor tinha erigido!... uma escrava iludir-me por tanto tempo, e por fim ludibriar-me, expondo-me em face da sociedade à mais humilhante irrisão! fazes ideia de quanto eu ficaria confuso e corrido diante daquelas ilustres damas, com as quais tinha feito ombrear uma escrava em pleno baile, perante a mais distinta e brilhante sociedade!...

- E o que mais é, - acrescentou Geraldo, - uma escrava que as ofuscava a todas por sua rara formosura e brilhantes talentos. Nem de propósito poderias preparar-lhes mais tremenda humilhação, um crime, que nunca te perdoarão, posto que saibam que também andavas iludido.

- Pois bem, Geraldo; eu, que naquela ocasião, desairado e confuso, não sabia onde esconder a cara, hoje rio e me aplaudo por ter dado ocasião a semelhante aventura. Parece que Deus de propósito tinha preparado aquela interessante cena, para mostrar de um modo palpitante quanto é vã e ridícula toda a distinção que provém do nascimento e da riqueza, e para humilhar até o pó da terra o orgulho e fatuidade dos grandes, e exaltar e enobrecer os humildes de nascimento, mostrando que uma escrava pode valer mais que uma duquesa. Pouco durou aquela primeira e desagradável impressão. Bem depressa a compaixão, a curiosidade, o interesse, que inspira o infortúnio em uma pessoa daquela ordem, e talvez também o amor, que nem com aquele estrondoso escândalo pudera extinguir-se em meu coração, fizeram-me esquecer tudo, e resolvi-me a proteger francamente e a todo o transe a formosa cativa. Apenas consegui que Isaura recobrasse os sentidos, e a vi fora de perigo, corri à casa do chefe de polícia, e expondo-lhe o caso, graças às relações de amizade, que com ele tenho, obtive permissão para que Isaura e seu pai, - fica sabendo que é realmente seu pai, - pudessem recolher-se livremente à sua casa, ficando eu por garantia de que não desapareceriam; e assim se efetuou, a despeito dos bramidos do Martinho, que teimava em não querer largar a presa.





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